(Midas ouve Pan - Johann Georg Bergmueller )
Com ar ameaçador, Midas conduziu o homem a uma peça sem janelas e chaveou a porta por dentro. Qundo tirou o barrete e deixou as longas orelhas à mostra, o barbeiro começou a trabalhar com suas tesouras como se nada notasse de diferente. Ao terminar o corte, Midas avisou-o que aquilo era segredo de estado: se contasse para alguém o carrasco real iria separar a sua cabeça do tronco. O barbeiro, aparentando indiferença, disse: " Não sei do que Vossa Majestade está falando, pois eu nada vi nesta sala que já não tivesse visto antes". O rei ficou tão satisfeito com a resposta que pagou-lhe várias vezes o valor do corte. Então o barbeiro saiu do palácio com as pernas bambas, percebendo que havia estado muito perto da morte.
Pouco a pouco aquele segredo começou a pesar tanto para o pobre barbeiro que o mesmo acabou ficando mais infeliz do que o rei orelhudo. Precisava contar aquilo para alguém, dividir aquele peso insuportável, aliviar sua mente. Mas temia ainda mais a espada do carrasco. Continuou a sofrer até que um dia, teve uma inspiração. Afastou-se o mais que pode da cidade e, lá longe, na curva deserta de um rio, cavou um buraco na margem, ajoelhou-se na areia úmida e sussurou ao buraco tres vêzes: "Midas tem orelhas de burro".
Depois disso, aliviado, repôs a terra cuidadosamente, cobrindo assim as perigosas palavras que tinha proferido, e retornou em silêncio para casa. Mas bem ali, naquele ponto onde cavou o buraco, algum tempo depois nasceu uma touceira de juncos que, na primavera seguinte, quando o vento agitava suas hastes flexíveis, faziam um barulho que parecia reproduzir na linguagem deles, o segredo que tinha sido confiado à terra: "Midas tem orelhas de burro". E o vento espalhou aquele segredo pelos campos, e os campos o repetiu para os cascos dos cavalos que por ali passavam, em direção à cidade, e a cidade o repetiu nas esquinas, nas feiras e no mercado, até que todos se inteirassem daquele fato.
Midas foi um grande tolo, como tolo são todos os governantes que pensam que podem ocultar, com dinheiro e ameaças as suas orelhas de burro, pois, bem mais cedo do que imaginam, o vento espalhará pela cidade os segredos e as verdades que em vão tentam esconder. Parece que isso está acontencendo hoje em dia, no nosso Congresso Nacional.
3 comentários:
O texto e a analogia merecem aplausos,de pé! bjs e uma linda semana pra você.
Oportuno e exuberante,na linguagem e na semiótica!Perfeito!
Te reverencio e abraço!
Viva Vida!
Obrigada pelos elogios! Meu pai e eu agradecemos sua visita! :-)
Voltem sempre!
Claudia
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