sábado, 5 de dezembro de 2009

Pérolas da Mitologia - O Rapto de Europa


O Rapto de Europa - Rubens

Há muito tempo atrás, havia no reino de Tiro um rei, Agenor, cuja filha era muito bela. O nome dela era Europa, e Zeus apaixonou-se perdidamente por sua beleza.

Movido por enorme determinação, Zeus decidiu utilizar-se de seu estratagema principal, ou seja, o de se metamorfosear em algum ser ou coisa. Por alguma razão, Zeus jamais aparecia diante das suas eleitas na sua forma pessoal, preferindo assumir sempre outra aparência qualquer. Assim, depois de muito pensar, decidiu transformar-se num grande touro, branco como a neve. Completada a transformação, Zeus desceu a Terra envolto numa grande nuvem.

Em uma das praias do rei de Tiro, um rebanho dócil de touros pastava num relvado próximo ao mar e sem que ninguém percebesse, uma grande nuvem foi se aproximando, até que dela desceu o grande touro, indo colocar-se em meio aos demais.

Ali esteve misturado aos demais, contrastando em relação ao pêlo escuro dos outros touros, até que de repente a bela Europa surgiu com suas amigas, rindo e cantando por entre as areias da praia. As suas companheiras eram belas, também, mas assim como Zeus destacava-se em seu rebanho, a filha de Agenor destacava-se em meio ao seu encantador e animado grupo. Era uma manhã luminosa, o sol brilhava sem ferir os olhos, e o céu tinha um tom manso e azulado como os olhos do touro, que observavam, atentos, a aproximação de sua amada.

Ao ver o grande touro branco, a jovem, destacando-se do grupo, avançou correndo, levantando a barra da sua túnica rendada, que lhe descia até um pouco abaixo dos joelhos. Quando chegou perto de Zeus, seus seios arfavam sob a fina gaze de suas vestes. Os grandes olhos azuis do touro branco pousaram sobre a face corada de Europa, de tal modo que a moça não pode deixar de observar o seu intenso brilho.

Todas as amigas ajuntaram-se em torno ao animal, que, no entanto, tinha seus grandes olhos azuis postos somente sobre a bela filha do rei. A moça, postando-se ao lado dele, começou a alisar o pelo sedoso de seu dorso branco, enquanto admirava os seus pequenos e delicados cornos, que tinham o brilho cristalino das melhores pérolas. Embora o aspecto do animal fosse suave, a sua musculatura era rija, o que Europa pôde comprovar ao alisar o seu pescoço.

Retirando-o do grupo, Europa levou-o para passear nas areias da praia, dando-lhe com as mãos algumas flores, que o touro comeu alegremente. Depois, ele pôs-se a correr ao redor da moça, enquanto as outras o perseguiam, fazendo-lhe festas e agrados.

Como o sol começasse a se tornar quente demais — pois era o auge do verão —, as moças, cansadas momentaneamente da brincadeira, despiram-se para dar um breve mergulho no mar. Europa, entretanto, preferiu ficar na areia, a brincar com seu touro branco. Assim, enquanto suas amigas banhavam-se, Europa colhia outras flores, compondo com elas uma bela grinalda que depositou em seguida sobre os chifres do animal. Depois, montada sobre as suas costas, foi conduzida por ele num trote manso. Enquanto o animal a levava, emitia um pequeno mugido, em sinal de orgulho e satisfação.

Zeus então entrou no mar e, apesar dos gritos das amigas de Europa, seguiu com passos firmes, avançando mar adentro, deixando atrás de si as mulheres pela praia, a sacudir os braços, impotentes. Imaginando que o touro enlouquecera, temeram que tanto Europa quanto o animal terminariam afogados, logo que ultrapassassem a rebentação. Surpreendentemente, porém, o touro rompeu as ondas, lançando-se num trote ainda mais ágil do que aquele que usara nas areias fofas da praia. E assim se afastou cada vez mais da praia, enquanto Europa procurava manter-se agarrada aos chifres de seu seqüestrador.

A jovem suplicava para que parase, apavorada. De repente, porém, tendo já avançado imensamente pelo oceano, o touro voltou para trás a cabeça e começou a conversar com a assustada Europa.

— Nada tema, bela Europa! — disse o animal. — Eu sou Zeus e a levo comigo para a ilha de Creta, onde casaremos e você será honrada com uma ilustre descendência.

Europa, mais calma, manteve-se agarrada aos chifres de seu futuro marido. Dentro em pouco chegaram ambos a ilha que o deus dos deuses anunciara. Tão logo teve os pés postos sobre o chão outra vez, Europa viu o touro branco assumir a forma esplendorosa de Zeus. Impaciente, o deus supremo carregou-a para dentro da ilha, enquanto Europa ainda tentava ensaiar alguma reação. Das núpcias deste casal surgiriam três lindos filhos, dentre os quais Minos, futuro rei de Creta.

Muitas vezes o amor é assustador e segue por caminhos tortuosos afastando os casais paixonados quando se deparam com dificuldades e obstáculos. O medo da desilusão, o conselho temeroso de amigos(as), a imaturidade, enfim, são tantas as armadilhas que nos fazem desistir do difícil caminho do amor. Mas àqueles que seguem firme no propósito de construir uma relação, agarram-se aos chifres de seu sequestrador, enfrentam as ondas do mar com as forças de quem acredita, de quem tem fé. Só assim se contrói uma relação amorosa verdadeira. Aquela que sobrevive às dificuldades, aquela que se reconstrói a cada dia, seguindo sempre em direção ao amor verdadeiro.

2 comentários:

Paulo Tamburro disse...

Também sempre gostei de mitologia.

Belissimo texto.

Vou ler com calma todas as postagens, lhe asseguro, mas agora gostaria que conhecesse minhas crônicas de humor, no blog : HUMOR EM TEXTO.

Um abração carioca!

soninha disse...

Zeus ,sempre,surpreendentemente belo e imprevisível.Excelente!bjs