sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Pérolas da Mitologia - A Arma mais Poderosa


(Mosaico em Pompéia - Naples National Archaeological Museum)

A Grécia antiga era formada por cidades estados. Ocupavam o mesmo território e falavam a mesma língua, mas havia muita rivalidade e disputas entre elas, muitas vezes descambando para guerras violentas. Nas guerras entre Atenas e Esparta, ou contra o formidável exército dos persas, a imaginação grega concebeu a falange, uma formação de soldados a pé, agrupados em várias fileiras compactas, que marchavam ombro a ombro, onde cada soldado levavaum escudo no braço esquerdo e uma lança no direito. O segredo do sucesso daquela formação, é que um dependia do outro para sobreviver nas batalhas. Um soldado da linha da frente sabia que o seu escudo devia proteger o companheiro que estava à sua esquerda, enquanto ele próprio era protegido pelo escudo do companheiro à sua direita. A vitório no combate, dependia da capacidade da falange manter a sua formação durante a luta. Não podia haver brechas, e, se alguém da frente caísse, seu lugar devia ser imediatamente tomado por um soldado da segunda linha. A marcha tinha um compasso marcado pela música de um flautista, porque era fundamental que as fileiras se movessem ao mesmo tempo, como se fosse um só homem. Dizem as testemunhas da época que era impressionante o espetáculo de uma falange de espartanos, com seus mantos vermelhos e suas armaduras brilhantes, em trote curto e decidido, com as lanças em posição de ataque, avançando pela planície como um monstruoso ouriço com os espinhos levantados.

Os inimigos respeitava muito aquelas falanges, mas pareciam atribuir as vitórias dos gregos a uma outra arma muito mais perigosa. Quando Xerxes foi obrigado a recuar para a Pérsia com seu exército, levou consigo todos os livros que estavam na grande biblioteca pública de Atenas: ele estava convencido de que os gregos, uma vez privados de seus livros, estariam também privadosde seu espírito nacional e de seu valor combatente.

Décadas depois, numa de suas intermináveis guerras internas, os mitilênios derrotaram os atenienses e foram impiedosos com os vencidos: proibiram-nos de educarem os filhos, privando-os do estudo das letras e da música, porque "não havia maior castigo do que condená-los a viver na ignorância".

O próprio Felipe, rei dos macedônios e um dos maiores guerreiros do mundo antigo, pensava como um grego e foi por isso que escreveu a Aristóteles, no dia em que nasceu seu filho Alexandre Magno: "De Felipe a Aristóteles, saudações. Quero que saibas que acaba de nascer meu filho, e que agradeço aos deuses por te-lo feito nascer na mesma época em que tu vives, pois espero que, educado e formado por ti, ele possa se mostrar digno de seu pai e do império que ele vai dirigir um dia".

Há vinte e cinco séculos atrás eles já sabiam - os persas, os mitilênios, os gregos e os macedônios - que é no rigor do estudo e no prazer da leitura que se trava o verdadeiro combate pelo futuro de um povo. E pensar que hoje em dia, neste triste Brasil, ainda tem gente que não sabe disso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Claudia Bins.
Como já havia dito em seu bog "Mosaicos do Sul", torno a dizer neste; é fascinante, possui muito material interessantíssimo, muito conteúdo, a ser desvendado aos poucos.
Ficarei muito feliz de vir mais vezes aqui visitá-la e aprimorar preciosos conhecimentos.
Muitos beijos

Cadinho RoCo disse...

O que temos no Brasil de hoje é a antítese de tudo aquilo que possa nos remeter a uma consciência social saudável e digna de um tempo que cobra conhecimento em escala elevada e não aquele demarcado pela mera intuição de um populismo rasteiro, oportunista e perverso por condenar um País inteiro a um estado de ilusão por demais perigosa.
Cadinho RoCo