Hoje sabemos que o camaleão se alimenta de insetos que captura com sua longa e viscosa língua. Porém, na antiga Grécia, ao vê-lo assim, imóvel e de boca aberta, não imaginavam que ele estivesse caçando, acreditavam apenas que êle estivesse sorvendo o vento, do qual se nutria. Parece absurdo, mas o próprio Plínio, um dos grandes cientistas do seu tempo, dizia da sua admiração por aquela criaturinha que não precisava comer nem beber.
O camaleão também fascinava os cientistas e filósofos do passado, por sua capacidade de mudar rapidamente de cor.
Esse símbolo vivo de inconstância e mutabilidade inspirou Plutarco a falar de Alcebíades, figura famosa e controvertida da democracia ateniense. Ele foi discípulo de Sócrates e teve seu nome imortalizado em diversos diálogos de Platão. Apesar de ser nobre e atraente, também era rico e inteligente, era tal o seu desejo de agradar as pessoas à sua volta que logo tratava de adotar seus modos e costumes no intuito de seduzi-las. Ele mesmo dizia que não suportava que o olhassem com indiferença e que precisava sentir-se amado e admirado por todos. Por isso tornou-se mais hábil em transformar-se do que um camaleão, fato que constituía sua faculdade dominante e o seu maior talento.
No seu curto exílio em Esparta, cativou a todos ao mostrar-se entusiasmado com a dura rotina daquela cidade, banhando-se em água fria e comendo o pão grosseiro com o escuro caldo espartano, como se não tivesse em Atenas banhos quentes e cozinheiros refinados. Na Jônia mostrou-se afeminado, fútil e voluptuoso. Entre os persas tratou de superá-los no luxo e ostentação. Não fazia isso por si mesmo, mas para agradar seus interlocutores, e, assim, os conquistava.
Não foi feliz. Como o camaleão dos antigos, se alimentava do vento das aparências e, por isso mesmo, vivia insatisfeito, sempre trocando de cor para atrair novas presas. Entre os gregos e os persas, Alcebíades desfrutou de estranhos e requintados prazeres, mas nunca experimentou o mais raro e valioso de todos: a sensação de paz que nos invade quando conseguimos nos ver livres da ânsia de agradar a todos, o tempo todo e a qualquer custo, podendo então conviver sem angústia com o fato inevitável de não sermos estimados ou valorizados por pessoas que, no fundo, em nada nos interessam.
2 comentários:
Oi foi a 2ª vez que li o teu blogue e adorei tanto!Espectacular Trabalho!
Até à próxima
Que bom! Volte sempre pois temos muitas novidades por aqui.
Abraço,
Claudia
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