sábado, 31 de outubro de 2009

Selinho



Ganhamos esse selinho do Fernando, do blog Falando.com. Bem fofo Fernando, agradecemos muito!

O selo vem com uma regrinha, devemos listar 10 coisas que não saem da nossa cabeça e também indicar 10 blogs. Então vamos lá, vou ter que listar sozinha, pois meu pai está no sítio:

1. Minha família
2. Busca por sabedoria
3. Uma vida melhor para todos
4. Mais paz e menos ganância
5. Um mundo sem fome
6. Crianças felizes
7. Ser uma pessoa melhor todos os dias
8. Levar alegria e calor humano por onde eu for
9. Mitologia Grega
10. Conhecer novos lugares e novas pessoas

Os 10 blogs que não me saem da cabeça, vou começar a lista aos poucos...:

1. Mosaicos do Sul
2. Velejando nas Letras
3. Morena de Pintas
4. Vintage Blog
em construção...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Pérolas da Mitologia - Amar é perigoso


(Eros e Psique - William Adolphe Bouguereau)

Procurado por todos, em todas as épocas, o amor sempre foi visto como um perigo incontornável. Todos respeitam o seu poder, ninguém o considera inofensivo. Apesar de sempre desejado, sabemos todos quão facilmente ele pode se transformar em dor e sofrimento. Ao longo de sua já longa história, a humanidade aprendeu muito bem essa lição, não sendo por acaso que todas as línguas do mundo falam nas "feridas do amor", que doem demais, custam muito a sarar e deixam cicatrizes para sempre. Os gregos, com sua incomparável imaginação, expressaram isso tudo, muito bem, no belo mito de Psiqué e de Eros, o jovem deus do Amor.


Psiqué era tão bonita que os próprios poetas não tinham palavras para descrevê-la. Embora seus pais fossem mortais, as pessoas que a viam ficavam tão estupefatas com sua beleza que a tomavam por uma filha da própria deusa Afrodite. Sua fama tanto se espalhou que vinham pessoas de todas as partes para prestarem devoção àquela nova divindade. Quando Afrodite percebeu aquela concorrência, ficou furiosa: convocou seu filho Eros, o belo deus de asas brancas, que vivia percorrendo os palácios e as aldeias a semear, com suas flechas invisíveis, a desconcertante loucura do amor. "Vais castigá-la por mim, fazendo com que ela se apaixone pelo mortal mais desprezível", ordenou a deusa, sem imagirnar a reviravolta que seu plano teria. Ao ver a linda Psiqué adormecida, Eros ficou tão perturbado que deixou cair sobre o próprio pé a flecha que ia lançar. O feitiço atingiu o feiticeiro e ele se apaixonou perdidadmente pela princesa.

Ao final de tudo, depois de muitas peripécias, a jovem vai se tornar imortal e os dois viverão felizes para sempre. Antes disso, porém, houve um momento em que Psiqué pensou que jamais iria casar. Intimidados por sua beleza, os homens a admiravam à distância, mas não ousavam se aproximar. Então, o pai dela, preocupado com aquela situação, foi perguntar ao oráculo de Apolo se ela se casaria um dia. A resposta o aterrorizou: "Não é com um homem que ela se casará, mas com um monstro cruel, feroz e traiçoeiro, que voa pelos ares e a todos queima com sua chama e fere com suas pontas aguçadas". Nós, que já conhecemos a estória, sabemos que o oráculo se referia a Eros - e não estranhamos as sombrias palavras que ele usou para se referir ao amor, porque sabemos que é assim mesmo. Amar é tão fascinante e perigoso quanto caminhar pela borda de um vulcão, mas é sempre um belo risco a correr.

domingo, 25 de outubro de 2009

Pérolas da Mitologia - Um simples abraço


(Óleo sobre tela de Cornelis Cornelisz van Haarlem)

Os antigos gregos, que inventaram a mitologia grega com todas aquelas estórias incríveis, ainda possuiam, ao lado da criatividade, um profundo conhecimento da natureza humana. Na imaginação daquela gente, o mundo estava povoado de incontáveis divindades femininas, solteiras e disponíveis: os campos e os bosques estavam habitados pelas ninfas, enquanto as profundezas dos oceanos e as espumas das ondas eram habitadas pelas nereidas - todas elas belas e misteriosas, exercendo seu fascínio sobre todos, homens ou deuses, que atravessassem seu caminho. Ao vê-las, muitos se deixaram tomar pelo amor ou pelo desejo, mas poucos conseguiram conquistá-las. Peleu, que viria a ser o pai de Aquiles, grande herói da Guerra de Tróia e pintado como o maior guerreiro de todos os tempos, foi um dos poucos que tiveram sucesso.


A sua eleita, Tétis, era a mais bela entre todas as nereidas. Ela costumava aparecer completamente nua numa pequena baía deserta da Tessália, cavalgando um golfinho amestrado. Ali, na solidão de uma pequena gruta oculta por espessos arbustos, ela se estendia languidamente para aproveitar a paz de uma sesta para revigorar sua beleza. Foi ali que Peleu a viu, por acaso, e ficou logo enfeitiçado. Chegou a dar um passo em sua direção, mas ela simplesmente correu pela areia da praia e foi desaparecer entre as ondas verdes do mar, deixando-o atônito, infeliz para todo o sempre, condenado a amar uma mulher inatingível. Então ele resolveu aconselhar-se com o centauro Quíron, velho mestre que tinha educado a ele e a tantos outros heróis. Quando ouviu o relato de Peleu, concluiu que se tratava de Tétis.

"É uma mulher para poucos, meu filho. Até o próprio Zeus a cobiça. Agora, se realmente é essa mulher que desejas, vais ter de provar que és homem suficiente. Ela pode assumir a forma que bem entender: de serpente, de fogo, de tigresa - sendo dessa forma que ela se livra de todos os seus pretendentes. Se achas que é essa a mulher que te fará feliz, espera que ela adormeça e põe toda a tua vida num abraço definitivo. Aconteça o que acontecer, não fraquejes, e ela acabará sendo tua".

Peleu não vacilou. Foi esconder-se entre os arbustos que tapavam a entrada da caverna. Quando a nereida adormeceu ao meio-dia, ele saltou sobre ela e enlaçou-a com seus braços poderosos, puxando-a contra o peito. Ela transformou-se numa fogueira, mas ele aguentou a queimadura. Como serpente ela o picou várias vezes, mas ele não a soltou. Então ela virou uma tigresa feroz e ele defendeu-se como pode de suas garras afiadas. Por fim, vencida, ela voltou à sua forma natural, aninhando-se junto ao peito daquele que seria seu marido.

Peleu ficou muito grato à Quíron, não sabendo que o velho centauro dava o mesmo conselho a todos seus discípulos, porque toda mulher tem um pouco de Tétis: quando assustada, pode queimar e ferir, mas se o seu homem a envolver num abraço verdadeiro e absoluto, sem nada pedir ou perguntar, em pouco tempo ela voltará à forma com que o conquistou.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Pérolas da Mitologia - Ariadne e Teseu



A bela Ariadne era filha do rei Minos, monarca de Creta. Ela ficou fascinada por Teseu, quando ele foi até aquela ilha para enfrentar o Minotauro. Ela sabia muito bem o risco que ele corria. Mesmo que matasse o monstro, não conseguiria sair do labirinto, perdendo-se para sempre na trama infinita daqueles corredores escuros. Ariadne se ofereceu para ajudá-lo, desde que ele a levasse para Atenas como esposa, depois de realizada a tarefa. Teseu aceitou a oferta e a condição. Então ela lhe deu um novelo de fio mágico, que foi desenrolando sozinho até encontrarem o Minotauro. Torturada pela angústia, ela ficou aguardando lá fora, ouvindo os sons distantes da luta que se travou no interior do labirinto. Quando finalmente Teseu retornou triunfante, com a espada ensanguentada na mão, ela teve a certeza que aquele era o homem ao qual queria entregar seu coração e sua alma.

Temendo represálias do Rei, os dois fugiram no mesmo navio que trouxe Teseu à ilha. Em Naxos, já a salvos, passaram sua primeira noite de amor e Ariadne adormeceu, encantada, nos braços seguros do herói. Ao acordar, no entanto, a surpresa de sempre: ele tinha ido embora, deixando-a ali sozinha, abandonada na areia dquela praia deserta. Ela não conseguia acreditar que fossem falsas todas aquelas juras de amor, e saiu correndo, desesperada a chamá-lo, como se ele ainda estivesse por ali e pudesse escutá-la. Então subiu ao alto de um rochedo e ainda pode ver a pequena vela negra que desaparecia no horizonte. Sentiu-se perdida. Não tinha mais para onde ir e não podia voltar para Creta. Só lhe restava morrer.

Ela chorou o dia todo enquanto procurava um galho onde pudesse enforcar-se. À noitinha, vencida pelo cansaço, adormeceu na macia relva do local. No sono, Afrodite, a deusa do amor, veio trazer-lhe consolo. "Não era homem para ti, Ariadne. Eu te guardei para um deus".

E era verdade, pois durante a noite chegou à Naxos o deus Dionísio, acompanhado de seu irriquieto séquito de sátiros e bacantes. Quando Ariadne acordou, ao som alegre dos címbalos e dos pandeiros, o deus estava ajoelhado junto dela, amparando-a delicadamente em seus braços e afagando suavemente seus cabelos. Disse ele: "Princesa, não chores por um homem que foi teu só por um dia. Agora vais ter um deus como marido, e desta vez para sempre".

Sem hesitar, ela jogou ao mar as lembranças de Teseu e tratou de ser feliz, numa lição exemplar para todas as Ariadnes modernas que ainda choram na praia. Tratem de secar suas lágrimas, deixem aquela vela negra afastar-se na distância e preparem-se para a chegada do deus que vocês merecem. Pode ser que ele demore, pode ser até que ele não venha, mas não faz mal: o importante é viver plenamente a emoção que essa espera traz.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Amor Impossível


(Selene and Endymion. Teto em Ny Carlsberg Glyptotek, Copenhagen)


A lua sempre foi o encanto dos enamorados. Consta que Selene, a deusa da Lua, nunca se havia interessado por homem algum. Sua imagem pálida e solitária atravessava os céus numa rotina de pura melancolia. Numa certa época, porém, ela foi acompanhada pelos olhos sonhadores do tímido Endimion, um belo pastor da Tessália, que levava o rebanho para o alto da montanha para poder observá-la mais de perto. De tanto fazer isso, ele começou a compreender o caprichoso ciclo lunar, que era um mistério para todos. Em função disso, granjeou fama na região, chegando aos ouvidos de Selene. Esta ficou curiosa: talvez ele fosse um homem diferente, capaz de entender o ritmo de seus delicados movimentos pelo céu noturno.
Certa noite, depois de muito hesitar, ela abandonou seu curso e veio ao encontro dele. Endimion estava adormecido ao relento, no cimo do monte, e era tão sereno o seu sono e tão suave o seu semblante que o coração da virgem Selene foi invadido por uma paixão que nunca antes experimentara. Depois dessa noite, era ela que ficava perturbada quando o avistava lá de cima, porque pressentia que essa atração recíproca, cada vez mais intensa, ia fazê-la entregar-se a um homem pela primeira vez. E foi assim: uma noite, quando ele dormia numa caverna, ela deitou ao seu lado e beijou-lhe os olhos fechados, infundindo-lhe um sono mágico - ele não podia acordar mas podia perceber e sentir tudo o que estava ocorrendo. Cheia de paixão, ela o possuiu com tanto ardor que esqueceu ser a Lua, o que causou um eclipse geral que deixou o mundo todo às escuras.
Acontece que Zeus não tolerava qualquer distúrbio no cosmos e resolveu castigá-la. Mas ela, em sua defesa, alegou que tinha se apaixonado, argumento que sempre sensibilizava o Rei dos deuses.
Então ele perguntou como poderia ajudá-la a manter a sua felicidade. "Deixe Endímion escolher seu destino, pai" disse ela. Consultado, o pastor respondeu que queria dormir eternamente, sem precisar temer a morte, prolongando para sempre aquele sonho maravilhoso que tivera - "e sem nunca envelhecer", acrescentou Selene, aproveitando a boa vontade de Zeus. Endímion dorme até hoje. Dizem que todas as noites a Lua ainda vem visitá-lo, e o abraça e o cobre de beijos - ele não pode ver a linda figura prateada que se desnuda ao seu lado e se curva sobre ele, mas sente o calor de seu hálito e seus suspiros apaixonados se misturam aos dela.

Os dois parecem cristalizar o sonho de qualquer enamorado: cristalizar para sempre aquela intensa paixão dos primeiros encontros. Infelizmente isso não é possível. A Lua e o pastor estão juntos, mas irão continuar sozinhos. Não poderão conhecer uma ao outro, porque não se falam e não se olham. Não vão rir juntos, não farão projetos, nem ao menos discutirão um com o outro. Não compartilham segredos, alegrias ou tristezas, e não podem, cada noite, contar um ao outro os vestígiuos do dia, aquelas coisas tão simples sem as quais o amor não sobrevive.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Espera

(Ariadne, Venus e Dionisio - Tintoretto)
A bela Ariadne era filha do rei Minos, monarca de Creta. Ela ficou fascinada por Teseu, quando ele foi até aquela ilha para enfrentar o Minotauro. Ela sabia muito bem o risco que ele corria. Mesmo que matasse o monstro, não conseguiria sair do labirinto, perdendo-se para sempre na trama infinita daqueles corredores escuros. Ariadne se ofereceu para ajudá-lo, desde que ele a levasse para Atenas como esposa, depois de realizada a tarefa. Teseu aceito a oferta e a condição. Então ela lhe deu um novelo de fio mágico, que foi desenrolando sozinho até encontrarem o Minotauro. Torturada pela angústia, ela ficou aguardando lá fora, ouvindo os sons distantes da luta que se travou no interior do labirinto. Quando finalmente Teseu retornou triunfante, com a espada ensanguentada na mão, ele teve a certez que aquele era o homem ao qual queria entregar seu coração e sua alma.
Temendo represálias do Rei, os dois fugiram no mesmo navio que trouxe Teseu à ilha. Em Naxos, já a salvos, passaram sua primeira noite de amor, e Ariadne adormeceu, encantada, nos braços seguros do herói. Ao acordar, no entanto, a surpresa de sempre: ele tinha ido embora, deixando-a ali sozinha, abandonada na areia dquela praia deserta. Ela não conseguia acreditar que fossem falsas todas aquelas juras de amor, e saiu correndo, desesperada a chmá-lo, como se ele ainda estivesse por ali e escutá-la. Então subiu ao alto de um rochedo e ainda pode ver a pequina vela negra que desaparecia no horizonte. Sentiu-se perdida. Não tinha mais para onde ir, e não podia voltar para Creta. Só lhe restava morrer.

Ela chorou o dia todo enquanto procurava um galho onde pudesse enforcar-se. À noitinha, vencida pelo cansaço, adormeceu na macia relva do local. No sono, Afrodite, a deusa do amor, veio trazer-lhe consolo. "Não era homem para ti, Ariadne. Eu te guardei para um deus".

E era verdade, pois durante a noite chegou à Naxos o deus Dionísio, acompanhado de seu irriquieto séquito de sátiros e bacantes. Quando Ariadne acordou, ao som alegre dos címbalos e dos pandeiros, o deus estava ajoelhado junto dela, amparando-a delicadamente em seus braços e afagando suavemente seus cabelos. Disse ele: "Princesa, não chores por um homem que foi teu só por um dia. Agora vais ter um deus como marido, e desta vez para sempre".

Sem hesitar, ela jogou ao mar as lembranças de Teseu e tratou de ser feliz, numa lição exemplar para todas as Ariadnes modernas que ainda choram na praia. Tratem de secar suas lágrimas, deixem aquela vela negra afastar-se na distância e preparem-se para a chegada do deus que vocês merecem. Pode ser que ele demore, pode ser até que ele não venha, mas não faz mal: o importante é viver plenamente a emoção que essa espera traz.

domingo, 20 de setembro de 2009

O Triunfo do Amor

(O Julgamento de Paris - Museu Capitolino - Roma)

Os gregos contavam que a Guerra de Tróia começou num concurso de beleza entre as deusas do Olimpo. Deuses e homens divertiam-se numa alegre festa de casamento, quando Éris, a deusa da discórdia, que não havia sido convidada exatamente por causa da sua fama, fez rolar no salão uma maçã de ouro na qual estavam gravadas tres palavras: "À mais bela". Bastou isso para provocar uma discussão generalizada entre os convivas daquela festa, ao fim da qual restaram apenas três candidatas: Atena, Hera e Afrodite. Então, elas foram pedir a Zeus que desempatasse a disputa.
Zeus, o rei dos deuses, era astuto demais para cair em tamanha armadilha. Alegou que não poderia interferir naquele certame que tinha como interessadas sua mulher e sua filha. Então, ordenou que procurassem Paris, jovem e belo pastor troiano, para que ele decidisse a quem caberia o troféu.
Paris, sozinho no monte Ida apacentando seu rebanho, subitamente viu chegarem aquelas três maravilhosas mulheres, e ficou sabendo que Zeus o encarregara de escolher a mais bela. Percebendo que a decisão, seja qual fosse, lhe traria duas poderosas inimigas, Paris tentou se esquivar daquela perigosa honra que invertia a ordem do universo, pois são os deuses que devem julgar os mortais. Mas uma ordem de Zeus não podia ser contestada.
Percebendo a hesitação do jovem, as três deusas, que também eram mulheres, tentaram seduzi-lo com promessas. Hera lhe oferece o poder absoluto sobre a Ásia e a Europa. Atena disse que lhe daria toda a sabedoria passada e futura. Afrodite, por sua vez, se limita a oferecer o amor de Helena, rainha de Esparta e a mais bela mulher do mundo. Como sabemos, Paris escolheu ficar com Helena, que se tornou o pivô da Guerra de Tróia, atraindo sobre si e sobre todos os troianos o ódio e a perseguição implacável das duas deusas preteridas.
Nunca concordaremos sobre o significado dessa estória. Para uns ela representa o triunfo do amor sobre a sede de fama e poder. Para outros significa que o homem está condenado a sempre escolher, inutilmente, porque de um jeito ou de outro, vai acabar vítima das forças que desprezou. Uma terceira corrente, enfim, entende que ela apenas retrata aquele momento pungente em que nos defrontamos com o mistério da beleza, naquele ponto indefinível no qual os filósofos se calam e os poetas começam a cantar.