No tempo em que os deuses do Olimpo ainda desciam à terra em busca do amor das belas mortais, Apolo tinha tudo para ser o mais cobiçado de todos os partidos. Além de ser a divindidade responsável pela cura das doenças e dos ferimentos, ele também presidia - sempre na companhia das Musas, suas encantadoras ajudantes - tudo o que se referia à música, ao canto e à poesia. Sua figura serena era a encarnação do equilíbrio harmonioso entre o intelecto e a beleza física. Os artistas sempre o representaram como um homem jovem, de porte atlético, com feições refinadas e um semblante inteligente - um verdadeiro modelo de beleza viril. Se acrescentarmos que, além de tudo isso, ele ainda era solteiro, fica difícil imaginar que alguma mulher, da mais remota à mais moderna, pudesse resistir a um homem assim.
Mas nem tudo foram rosas para Apolo, que foi rejeitado por mais de uma pretendida. O caso mais constrangedor foi o de Marpessa, uma princesa de extraordinária beleza. Ele estava tão apaixonado por ela que, numa atitude sem precedentes para um deus, pediu-a em casamento, quando ficou sabendo - aturdido - que um simples mortal, um tal de Idas, príncipe de um reino vizinho, também tinha entrado na disputa. Como era inevitável, os dois rivais um dia se defrontaram, primeiro com palavras, depois com os punhos. Apesar de desigual, a luta era terrível, obrigando Zeus a intervir para apartar os dois pretendentes. Que a moça decidisse com qual dos dois casaria. Para surpresa geral e escândalo de muitos, ela optou por Idas, alegando que ela não seria feliz ao lado de um deus tão cobiçado e tão célebre em toda a Grécia.
Apolo retornou cabisbaixo para o Olimpo, derrotado, inseguro, inaugurando o mote que os homens despeitados repetam até hoje quando se sentem preteridos ou trocados por alguém que consideram um rematado cretino: "É a velha queda que as mulheres têm pelos tolos!"
Os que usam essa idéia como consolo, costumam reforçá-la com o exemplo de tantos gênios e artistas maltratados por suas mulheres, apresentando terríveis exceções para reforçar a regra - daquelas que enfrentaram o desafio de terem tido um marido brilhante e criativo, muitas foram castigadas por sua ousadia, como lamentou Clara, mulher de André Malraux: "Aos poucos eu fui percebendo que viver ao lado dele era um presente magnífico que eu pagava dia a dia pelo meu próprio aniquilamento"."Eu não disse? É assim mesmo: elas não suportam o brilho!" exulta Apolo eternamente ressentido, enquanto por ali mesmo, Afrodite confortava alguma ninfa desiludida de amor com palavras muito semelhantes, cheias de amarga ironia: "Não chores, minha filha, pois não vale a pena: os homens sempre preferem as mais jovens e as mais magras!"
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