sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Espera

(Ariadne, Venus e Dionisio - Tintoretto)
A bela Ariadne era filha do rei Minos, monarca de Creta. Ela ficou fascinada por Teseu, quando ele foi até aquela ilha para enfrentar o Minotauro. Ela sabia muito bem o risco que ele corria. Mesmo que matasse o monstro, não conseguiria sair do labirinto, perdendo-se para sempre na trama infinita daqueles corredores escuros. Ariadne se ofereceu para ajudá-lo, desde que ele a levasse para Atenas como esposa, depois de realizada a tarefa. Teseu aceito a oferta e a condição. Então ela lhe deu um novelo de fio mágico, que foi desenrolando sozinho até encontrarem o Minotauro. Torturada pela angústia, ela ficou aguardando lá fora, ouvindo os sons distantes da luta que se travou no interior do labirinto. Quando finalmente Teseu retornou triunfante, com a espada ensanguentada na mão, ele teve a certez que aquele era o homem ao qual queria entregar seu coração e sua alma.
Temendo represálias do Rei, os dois fugiram no mesmo navio que trouxe Teseu à ilha. Em Naxos, já a salvos, passaram sua primeira noite de amor, e Ariadne adormeceu, encantada, nos braços seguros do herói. Ao acordar, no entanto, a surpresa de sempre: ele tinha ido embora, deixando-a ali sozinha, abandonada na areia dquela praia deserta. Ela não conseguia acreditar que fossem falsas todas aquelas juras de amor, e saiu correndo, desesperada a chmá-lo, como se ele ainda estivesse por ali e escutá-la. Então subiu ao alto de um rochedo e ainda pode ver a pequina vela negra que desaparecia no horizonte. Sentiu-se perdida. Não tinha mais para onde ir, e não podia voltar para Creta. Só lhe restava morrer.

Ela chorou o dia todo enquanto procurava um galho onde pudesse enforcar-se. À noitinha, vencida pelo cansaço, adormeceu na macia relva do local. No sono, Afrodite, a deusa do amor, veio trazer-lhe consolo. "Não era homem para ti, Ariadne. Eu te guardei para um deus".

E era verdade, pois durante a noite chegou à Naxos o deus Dionísio, acompanhado de seu irriquieto séquito de sátiros e bacantes. Quando Ariadne acordou, ao som alegre dos címbalos e dos pandeiros, o deus estava ajoelhado junto dela, amparando-a delicadamente em seus braços e afagando suavemente seus cabelos. Disse ele: "Princesa, não chores por um homem que foi teu só por um dia. Agora vais ter um deus como marido, e desta vez para sempre".

Sem hesitar, ela jogou ao mar as lembranças de Teseu e tratou de ser feliz, numa lição exemplar para todas as Ariadnes modernas que ainda choram na praia. Tratem de secar suas lágrimas, deixem aquela vela negra afastar-se na distância e preparem-se para a chegada do deus que vocês merecem. Pode ser que ele demore, pode ser até que ele não venha, mas não faz mal: o importante é viver plenamente a emoção que essa espera traz.

2 comentários:

Mariana disse...

Claudia agradeço a tua visita.
Vim conhecer o teu blog e nele encontrei informações novas.
Gostei muito.
Passei a ser tua seguidora.
tenhas uma semana iluminada.

soninha disse...

Lindo demais!Muitas vezes vive-se tão intensamente um só dia ou uma só noite que milênios derramados sobre ele não o substituirão,jamais!
Estes textos são maravilhosos.bjs