(Selene and Endymion. Teto em Ny Carlsberg Glyptotek, Copenhagen)
A lua sempre foi o encanto dos enamorados. Consta que Selene, a deusa da Lua, nunca se havia interessado por homem algum. Sua imagem pálida e solitária atravessava os céus numa rotina de pura melancolia. Numa certa época, porém, ela foi acompanhada pelos olhos sonhadores do tímido Endimion, um belo pastor da Tessália, que levava o rebanho para o alto da montanha para poder observá-la mais de perto. De tanto fazer isso, ele começou a compreender o caprichoso ciclo lunar, que era um mistério para todos. Em função disso, granjeou fama na região, chegando aos ouvidos de Selene. Esta ficou curiosa: talvez ele fosse um homem diferente, capaz de entender o ritmo de seus delicados movimentos pelo céu noturno.
Certa noite, depois de muito hesitar, ela abandonou seu curso e veio ao encontro dele. Endimion estava adormecido ao relento, no cimo do monte, e era tão sereno o seu sono e tão suave o seu semblante que o coração da virgem Selene foi invadido por uma paixão que nunca antes experimentara. Depois dessa noite, era ela que ficava perturbada quando o avistava lá de cima, porque pressentia que essa atração recíproca, cada vez mais intensa, ia fazê-la entregar-se a um homem pela primeira vez. E foi assim: uma noite, quando ele dormia numa caverna, ela deitou ao seu lado e beijou-lhe os olhos fechados, infundindo-lhe um sono mágico - ele não podia acordar mas podia perceber e sentir tudo o que estava ocorrendo. Cheia de paixão, ela o possuiu com tanto ardor que esqueceu ser a Lua, o que causou um eclipse geral que deixou o mundo todo às escuras.
Acontece que Zeus não tolerava qualquer distúrbio no cosmos e resolveu castigá-la. Mas ela, em sua defesa, alegou que tinha se apaixonado, argumento que sempre sensibilizava o Rei dos deuses.
Então ele perguntou como poderia ajudá-la a manter a sua felicidade. "Deixe Endímion escolher seu destino, pai" disse ela. Consultado, o pastor respondeu que queria dormir eternamente, sem precisar temer a morte, prolongando para sempre aquele sonho maravilhoso que tivera - "e sem nunca envelhecer", acrescentou Selene, aproveitando a boa vontade de Zeus. Endímion dorme até hoje. Dizem que todas as noites a Lua ainda vem visitá-lo, e o abraça e o cobre de beijos - ele não pode ver a linda figura prateada que se desnuda ao seu lado e se curva sobre ele, mas sente o calor de seu hálito e seus suspiros apaixonados se misturam aos dela.
Os dois parecem cristalizar o sonho de qualquer enamorado: cristalizar para sempre aquela intensa paixão dos primeiros encontros. Infelizmente isso não é possível. A Lua e o pastor estão juntos, mas irão continuar sozinhos. Não poderão conhecer uma ao outro, porque não se falam e não se olham. Não vão rir juntos, não farão projetos, nem ao menos discutirão um com o outro. Não compartilham segredos, alegrias ou tristezas, e não podem, cada noite, contar um ao outro os vestígiuos do dia, aquelas coisas tão simples sem as quais o amor não sobrevive.
3 comentários:
Nooooossa .... amei seu blog!!!! Estarei sempre por aqui, pra abastecer a alma de cultura e magia ... Beijos .... :)
Adri,
que bom que gostou. Volte sempre!
Clau
Que maravilha!Viajei tão intensamente que conclui que as coisas simples é que não sobrevivem sem o amor...bjs
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