A estátua de Moisés, famosa escultura de Michelangelo, não lhe respondeu quando ele, impressionado com a perfeição da sua própria obra, teria batido com o cinzel no joelho da mesma e dito: "Fala". Ela não respondeu - mas poderia. Afinal, quinze séculos antes disso, ilustres figuras e curiosos de todos os tipos, visitavam o Colosso de Memnon, famosa estátua do antigo Egito, só para ouvi-la cantar. Talhada em pedra escura, aquela estátua ficava no famoso Vale dos Reis, próximo do Rio Nilo. Como estava voltada para leste, ela recebia em pleno rosto, os primeiros raios de sol da manhã. Cerca de uma hora após o nascer do sol, ela soltava um som vibrante, pungente como o romper de uma corda da lira. O famoso imperador romano Adriano, e sua esposa Sabina, estiveram lá, como atesta o pedestal que ele mandou gravar com as palavras "audi Memnonem" - "Eu ouvi Memnon".
Avariada por um terremoto, a estátua foi restaurada no Século III, porém emudeceu. A razão física daquele som e a posterior perda do mesmo não vem ao caso. Paras os antigos só podia ser coisa dos deuses. Para uns, era o filho da Aurora, Memnon, morto na flor da idade, que se queixava cada vez que via sua mãe pintar o céu com seus tons de rosa. Para outros , era Apolo, o deus do Sol, que devolvia a saudação da estátuta com uma onda de energia irradiante.
Fosse lá o que fosse, existe nessa estória uma metáfora antiga sobre o papel masculino que Michelangelo não podia entender: seja estátua, seja mulher, não é batendo nela que a faremos falar. Nem com uma ordem ou comando. Também não com império e poder. A mulher precisa receber em cheio um olhar que a ilumine, que aqueça sua alma e a faça desabrochar, como os raios de sol do Egito. Ela é assim desde menina, quando cabe ao olhar do pai mostrar-lhe o quanto ela é afortunada por ter nascido mulher. Depois, é nos olhos de seu homem que ela precisa colher essa luz inconfundível que vai, muito mais do que o espelho, convencê-la de que ela é bela e desejável. Se ela for tratada assim, nunca vai deixar de falar. Com sorte, é até possível que cante.
Avariada por um terremoto, a estátua foi restaurada no Século III, porém emudeceu. A razão física daquele som e a posterior perda do mesmo não vem ao caso. Paras os antigos só podia ser coisa dos deuses. Para uns, era o filho da Aurora, Memnon, morto na flor da idade, que se queixava cada vez que via sua mãe pintar o céu com seus tons de rosa. Para outros , era Apolo, o deus do Sol, que devolvia a saudação da estátuta com uma onda de energia irradiante.
Fosse lá o que fosse, existe nessa estória uma metáfora antiga sobre o papel masculino que Michelangelo não podia entender: seja estátua, seja mulher, não é batendo nela que a faremos falar. Nem com uma ordem ou comando. Também não com império e poder. A mulher precisa receber em cheio um olhar que a ilumine, que aqueça sua alma e a faça desabrochar, como os raios de sol do Egito. Ela é assim desde menina, quando cabe ao olhar do pai mostrar-lhe o quanto ela é afortunada por ter nascido mulher. Depois, é nos olhos de seu homem que ela precisa colher essa luz inconfundível que vai, muito mais do que o espelho, convencê-la de que ela é bela e desejável. Se ela for tratada assim, nunca vai deixar de falar. Com sorte, é até possível que cante.