Quando os deuses resolveram povoar este mundo, moldaram todos os animais com fogo e com argila, encarregando os titãs Prometeu e Epimeteu de equipá-los com o necessário para a vida de cada um. Epimeteu pôs mãos à obra e deu corpulência a uns, agilidade a outros, para uns deu garras e chifres, para outros não deu armas, mas dotou-os de asas ou pernas velozes para fugir; de uns fez predadores e de outros fez presas, mas deu a estes a benção de uma prole numerosa, para que nenhuma espécie viesse a ser extinta. Quando, notou que tinha esquecido o homem, que ali quedava nu, desarmado e indefeso. Para que ele sobrevivesse, Prometeu roubou dos deuses o fogo e a misteriosa arte de domá-lo.
Desprovido de escama, penas, concha ou pele espessa, o homem é o único animal de toda a criação, que se veste com o despojo dos outros. Quando chega a este mundo só sabe chorar e gemer, precisando ficar enrolado em paninhos, tolhido, por vários meses, ao passo que um pinto já anda solto pelo terreiro no dia em que rompe a casca do ovo. No início apenas chora, mas quando saberá caminhar, falar. Quando terá forças para mastigar o que come? Os outros animais já nascem com o instinto de sua espécie: uns correm, outros voam, outros ainda nadam, mas o homem não sabe coisa alguma que não tenha que apreender a duras penas - o único dom natural que recebeu foi chorar - talvez pelo simples fato de ter nascido.
No entanto, é essa ínfima criatura que irá comandar as demais, porque ele é diferente. De todos os seres, o homem é o único que conhece o luto e o riso, que procura o prazer de todas as formas e por todas as parte de seu corpo, que sofre com a ambição da riqueza e com a brevidade da vida, que se preocupa com a morte e até com o que vai acontecer depois que ele morrer. Mas, acima de tudo, é o único que não se conforma com o impiedoso ciclo animal, onde os mais fracos são aniquilados. Paradoxalmente a espécie humana começou a tornar-se a mais forte de todas somente quando começou a atrasar o seu passo para ajudar os retardatários na savana,
quando sentiu que devia carregar os feridos, proteger as crias abandonadas e dividir o alimento com os que não tinham ou que não podiam caçar - quando, em suma, assumiu que a fraqueza do outro era sua fraqueza também. A solidariedade, portanto, foi a força que fez o homem diferente das demais espécies deste planeta.
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