A donzela guerreira Atalanta, teve uma infância infeliz como tiveram quase todos os heróis da mitologia grega. Quando ela nasceu, o rei Iasos, que precisava de um filho varão, foi aconselhado pelo oráculo a abandoná-la nas matas da vizinhança. Como sempre acontece, o servo encarregado daquela tarefa se apiedou da criança e a depôs no interior de uma caverna, implorando à deusa dos bosques, Artêmis, que protegesse a pequenina.
O auxílio veio na forma de uma ursa que recém havia perdido seus filhotes. Encontrando a bebezinha na sua caverna, por instinto, começou a amamentá-la e protegê-la. Alguns meses depois um caçador descobriu a criança naquela caverna e a resgatou, levando-a para sua casa e deu-lhe o nome de Atalanta. O tempo a transformou numa bela mulher, que vivia ao sol correndo pelos montes e pelos campos com seu arco e sua lança, exatamente como sua deusa protetora, Artêmis. Vestida com uma túnica muito curta, presa num só ombro, deixando livre seus movimentos e pouco escondia seu corpo ágil e flexível. Os que viam a virgem caçadora, ficavam extasiados com a sua beleza selvagem. Mas o temor de suas armas mantinha todos à distância.
Sua glória ocorreu na grande caçada ao javali gigante que devastava lavouras e aldeias da redondeza. A caçada atraiu jovens de toda a Grécia, fascinados pela chance de conquistarem honra e renome.
Ao final, quem abateu a fera foi Atalanta, que feriu mortalmente o animal com uma de suas flechas, conquistando o troféu tão desejado.
Ao saber dessa façanha, o rei Iaso chamou-a à sua presença e quis saber de onde ela viera. Os indícios eram eloquentes e o rei reconheceu em Atalanta a sua filha que julgava morta. Abraçando-a com orgulho, contou-lhe seu nascimento e lamentou não ter tido, na ocasião, coragem de contrariar a recomendação do oráculo. Ela também o abraçou, pois tinha sonhado com aquele momento e não ia estragá-lo com queixumes e cobranças de um tempo tão distante.
Não ia cobrar agora o que seu pai não lhe dera vinte anos atrás. Ele não devia nada. Iam recomeçar do zero e tratar de ser felizes.
Atalanta antecipava, assim, o que Epíteto viria a escrever: a pessoa comum culpa o outro por tudo o que lhe sai errado; o noviço em filosofia culpa sempre a si mesmo; o sábio, esse não culpa nem um, nem outro.
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