(Busto de Aristóteles - Museu do Louvre, Paris)
O extraordinário filósofo Aristóteles foi tutor e professor do lendário Alexandre Magno. Daquela relação tão ilustre, contada de muitas diferentes maneiras, tantas que já não se sabe o que aconteceu de verdade e o que é fantasia. É o caso de uma estorieta picante que alcançou grande sucesso na Europa medieval.
Consta que Aristóteles um dia cometeu a besteira de sugerir a Alexandre que se afastasse de sua belíssima namorada Fílis, para se concentrar mais nos estudos. Alexandre ficou aborrecido e contou para ela o que seu mestre pedira. Então Fílis resolveu agir. No dia seguinte, como sempre fazia, ao raiar do dia, Aristóteles já estava estudando na biblioteca do castelo, quando ouviu, por uma janela que dava para o jardim, a linda voz de Fílis, que cantava despreocupadamente. Ao se aproximar da janela da biblioteca que ficava no térreo, avistou a moça que passeava com os pés nus na relva úmida, os cabelos ainda molhados do banho, com a túnica desamarrada na cintura, entreabindo-se a cada passo que dava. Dizem que Aristóteles perdeu a compostura , mandou a filosofia às urtigas e quase se precipitou janela afora, completamente enfeitiçado por aquela figura sedutora. Pediu que ela se aproximasse e implorou que ela se entregasse a ele, nem que fosse uma só vez. Ela disse que somente faria isso em troca de um pequeno favor, que seria mais um capricho da parte dela: ele tinha que se por de quatro no jardim e deixar ela montar em suas costas, como se ele fosse um cavalo mansinho. Em menos tempo em que se diria o nome dele, o mestre já estava lá fora em posição de monta. A moça colocou-lha na boca um freio de seda vermelho, cavalgando-o pelo jardim, fazendo evoluções entre os canteiros, enquanto entoava uma canção de triunfo. Era a deixa para Alexandre abrir sua janela e simular uma escandalizada surpresa diante do que via: "Mas mestre, com o pode ser isso?" Aristóteles, apanhado no flagrante, ainda tentou usar a cena para dar mais uma lição a seu pupilo: se ele, sábio e experiente, tinha se tornado um simples joguete nas mãos daquela mulher, o que se poderia esperar de um jovem impetuoso como Alexandre.
Apesar de pouco verossímel, essa estória contém alguma coisa que até hoje nos encanta. Em parte, pelo secreto prazer de ver o mundo virado do avesso, como o grande mestre de Alexandre reduzido a uma cavalgadura. Em parte, também, é a confirmação maliciosa de que a mulher e a natureza, juntas, constituem a força que governa o planeta.
domingo, 23 de agosto de 2009
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