Se os heróis da mitologia fossem hoje recebidos no aeroporto, nenhum deles mereceria mais aplausos do que Prometeu, a quem devemos mais do que imaginamos. Sem ele não teríamos o fogo, que ele roubou aos deuses para nos dar de presente, pelo que tornou-se alvo da cólera divina.
O poeta Hesíodo, autor da versão mais famosa desse mito, conta que Zeus ficou tão furioso que resolveu punir exemplarmente os envolvidos naquele roubo. Para castigar Prometeu resolveu acorrentá-lo num rochedo e mandou que uma águia viesse devorar-lhe o fígado, que se renovava todos os dias (portanto os gregos antigos, já sabiam que o fígado é o único órgão do corpo humano capaz de regenerar uma parte perdida ).Para castigar os homens, recorreu ao expediente mais sutil, mas igualmente terrível, de criar a primeira mulher.
Embora Hesíodo descreva isso como vingança, o capricho com que Zeus desenhou e executou o projeto da mulher sugerem que o poeta , cego pelos seus preconceitos, não percebeu o orgulho que o rei dos deuses sentia pela obra que estava criando. Primeiro, ele ordenou a Hefesto, o artesão divino, que moldasse, na mesma argila usada para o homem, mas diferente: onde o homem era forte ela seria fraca, onde o homem era tolo ela seria sábia, onde o home era duro ela seria macia, onde o homem era ousado ela seria tímida, mas onde o homem tivesse medo ela teria coragem. Depois chamou todos os deuses para ajudá-lo, pedindo-lhes que dotassem a nova criatura com o melhor e o pior de si mesmos. Afrodite deu-lhe a graça e a beleza, mas também a vaidade; Atena deu-lhe habilidade com as mãos, mas também a curiosidade perigosa; Hermes deu-lhe o dom da persuasão, mas também a ensinou a enganar com as palavras e, assim por diante. Como se tratava de um presente que todos os deuses faziam ao homem, chamaram-na de Pandora, que em grega significa "a que tem todas as dádivas".
Com ela nasce o sexo feminino, mais fraco e delicado, de uma fragilidade que contrasta com a ação enérgica e decidida do sexo masculino: o homem caça, faz a guerra, derruba as muralhas de Tróia, derrota os persas e abate o leão de Neméia, enquanto ela canta diante do tear e espera que ele volte para casa. Dir-se-ia que tudo estava no lugar e não havia dúvida quanto ao papel de cada um - até que um dia ela tem um filho - e toda a falsidade daquele quadro vem à tona. Já no parto o homem fica desconcertado ao ver a força espantosa que sua frágil companheira consegue mobilizar, aceitando a dor e o cansaço num nível que seria insurpotável até para o mais rude guerreiro. Depois, à cabeceira de um filho doente, ele assiste, com respeito e admiração, àquela luta titânica que só as mães conseguem travar, noite após noite, contra o inimigo invisível e traiçoeiro que ronda o berço com suas asas negras. Então, com toda a humildade o homem compreende qual dos dois é, na verdade, o sexo forte, e agradece a Zeus pelo maravilhoso presente que recebeu.
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