Durante muito tempo o governo de Corinto esteve nas mãos de uma mesma família. Os Báquidas se apresentavam como descendentes do deus Baco. Para não arriscar o seu poder, sempre casavam com membros da própria família. Um dia, uma de suas filhas, Labda, feia demais para atrair um de seus primos, acabou casando com um jovem que não pertencia ao clã. O marido, ansioso por um herdeiro, consultou o oráculo Delfos, que previu para ele um filho em breve. Tal filho tomaria o lugar dos atuais governantes, iniciando uma nova era para Corinto.
Os Báquidas, descobrindo a profecia, decidiram agir assim que o parto de Labda ocorresse.
Quando o menino nasceu, sortearam dez entre eles e os enviaram à casa de Labda para matá-lo. Chegando lá pediram para vê-lo. Labda, desconhecendo o motivo daquela visita, foi buscar orgulhosa o filhinho, depositando-o nos braços de um deles. Ora, eles decidiram, no caminho, que executaria a missão aquele a quem ela primeiro entregasse a criança.
Naquele momento, porém, o menino abriu um largo sorriso para seu matador, que ficou tão enternecido que não teve coragem de executar a ordem, passando-o ao companheiro ao lado, e êste ao outro, e assim por diante, sem que nenhum teve coragem de cumprir a missão.
Vencidos por um sorriso, devolveram a criança à mãe e saíram constrangidos, acusando-se mutuamente de fraqueza e covardia.
Após muita discussão, decidiram todos voltar e executarem a tarefa em conjunto. Acontece que Labda ouviu toda aquela discussão e teve tempo de esconder o menino numa tulha, onde não conseguiram encontrá-lo. Então aquela turma resolveu dizer ao rei que mataram a criança.
De onde vem essa estranha força do sorriso inocente que salvou a vida de Cípselo, o filhinho de Labda e futuro rei de Corinto? A ciência diz que é um comportamento natural, impresso no cérebro dos pequeninos humanos pela infinita sabedoria da espécie. Trata-se de um mecanismo de sobrevivência, destinado a cativar a mãe e garantir o apego dos mais próximos, para assegurar que o bebê terá os cuidados necessários. Pressentimos, no entanto, que tal sorriso misterioso, que faz todos sorrirem junto, despertando em cada um o que tem de bondade de ternura, , não está ali para salvar somente o bebê, mas também a todos nós. Ele ri como se tivesse um segredo feliz para compartilhar conosco, como se quisesse nos lembrar de alguma coisa importante que estamos esquecendo: que esta vida é preciosa e vale cada minuto.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário