Este é o tema central da cena magistral que Homero escolheu para encerrar sua Ilíada. No mais famoso confronto da Guerra de Tróia, quiçá de toda história da humanidade, Aquiles, filho de uma deusa com um mortal, o maior guerreiro de todos os tempos, venceu facilmente o mais valoroso dos troianos, que era Heitor, filho de Príamo, rei de Tróia.
Não satisfeito em matá-lo, Aquiles amarrou o corpo de Heitor no seu carro e o arrastou pelo pó da planície até o acampamento grego, onde o deixou insepulto para ser devorado pelos cães famintos que rondavam o campo de batalha.
Do alto das muralhas os troianos assistiram estarrecidos seu herói ser morto por Aquiles, mas ninguém se desesperou mais do que seu pai, o velho rei Príamo, por não poder dar ao seu filho um digno funeral.
No Olimpo os deuses também se indignaram com o triste fim de Heitor, pois ele era um homem justo, um grande guerreiro e não merecia esse derradeiro ultraje. A uma ordem de Zeus, o cadáver do herói foi coberto por um bálsamo divino que impedia a putrefação. Íris a deusa mensageira, foi sugerir a Príamo que oferecesse um rico resgate pelo corpo, como era costume entre os gregos, enquanto a deusa Tétis, mãe de Aquiles, foi até sua tenda para convence-lo a devolver Heitor à sua família.
Príamo deixou a cidade e dirigiu-se à noite até o acampamento grego, com uma carreta pesada de riquezas. Hermes, o deus dos caminhos, guiou-o na escuridão até o campo inimigo. Lá, o deus adormeceu os guardas e o carro pode passar desapercebido, deixando Príamo frente à tenda de Aquiles. Este surpreendeu-se quando o velho rei surgiu da noite e arrojou-se ao solo, à sua frente, e beijou-lhe suplicante, a mesma mão que ceifara a vida de seu valoroso filho: " Dá o meu Heitor de volta, Aquiles! Pensa no teu pai, que também deve ter cabelos brancos e deve te amar como eu amei meu filho!"
Ouvindo essas palavras, Aquiles lembrou com tristeza que seu pai, o velho Peleu, devia estar de longe, lá na Grécia, esperando seu retorno, sem saber que seu oráculo havia predito que ele não voltaria de Tróia.
Comovido, ele retirou mansamente a sua mão das mãos de Príamo, e os dois, frente a frente, unidos pelo mesmo sentimento de dor e solidão, irromperam num pranto comum que veio encher a imensidão daquela noite com os seus soluços, não mais como dois inimigos, mas como dois simples homens que choravam a infinita saudade de todos os pais e de todos os filhos que nunca mais vão se ver.
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