quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Pérolas da Miologia - O indispensável mistério

(Eros Centocelle, Pompéia)
A filha de um antigo rei grego era tão bela que seus admiradores começaram a compará-la com a própria Afrodite. Enciumada, essa deusa ( os deuses da mitologia grega só eram diferentes dos mortais no poder que tinham e na sua imortalidade - em tudo o mais tinham as virtudes e os defeitos que encontramos entre os mortais: daí o ciumes de Afrodite) mandou seu filho, Eros, deus do amor e da paixão, flechar o coração daquela moça para fazê-la enamorar-se do homem mais feio do mundo. Eros bem que tentou mas apaixonou-se no momento que a viu, provando pela primeira vez, o doce veneno de suas próprias setas. A bela jovem chamava-se Psiquê, o mesmo nome que os gregos davam à borboleta e à impalpável alma humana.
Era tão bela que ninguém ousava candidatar-se à sua mão. Alarmados , os pais dela foram perguntar ao oráculo Delfos se um dia ela casar-se-ia. O oráculo foi claro: deveriam deixá-la , vestida de noiva, ao pé de certo rochedo, onde seu futuro marido iria buscá-la e que ele não seria um simples mortal.Os pais, que não ousaram contraria a voz sagrada de Delfos, deixaram Psiquê no local indicado, onde ela adormeceu. Um vento misterioso então a transportou para um rico palácio no alto do monte, onde ela foi banhada e penteada por mãos invisíveis. "À noite," disse-lha uma voz sem dono, "teu marido chegará". E assim foi: na escuridão absoluta, ela não viu quando Eros se aproximou. Apenas sentiu que alguém deitava ao seu lado, no fresco leito nupcial, abraçando-a com tanto carinho e paixão que ela perdeu todo o receio que tinha e deixou o prazer dominá-la. E assim, noite após noite, no decorrer dos meses, ela o recebeu em seus braços, sentindo-se cada vez mais enamorada daquele desconhecido que sempre partia bem antes do sol nascer.
Um dia percebeu que estava grávida. Criou coragem e pediu que ele se mostrasse. Foi em vão: "Se tu me vires, eu nunca mais voltarei" , disse ele. Mas ela estava decidida: numa noite em que ele dormia a seu lado, acendeu um candeeiro que iluminou todo o leito. Como já suspeitava, seu marido era um deus, o próprio Eros em pessoa, belo como devia ser um filho de Afrodite. A forte luz da candeia, porém, despertou Eros. Ele a olhou com mágoa e desapontamento, considerando-se traído, afastou-se em silêncio.
Essa história teve um final bonito: depois de muitos infortúnios, os dois enamorados acabaram vivendo felizes, juntamente com sua filha Voluptas. Psiquê tinha aprendido a lição: quem ama - e quer que isso dure - deve aceitar que o outro preserve um pouco de seu segredo, assim como aceitamos que a Lua tenha uma face brilhante e outra que nunca veremos. Afinal, é nas trevas do mistério que ela, a alma, ainda se encontra com Eros, a paixão, para que nasça, a cada noite, a indispensável volúpia.

Um comentário:

Velejando nas Letras disse...

Cláudia,

Obrigada pelo convite. O seu blog está muito interessante e bonito. Achei bacana o "Pax de Deux" com o seu pai. Também tive uma influência muito importante do meu, que adorava mitologia e tudo o que se referia à cultura. Parabéns!

Angela